Ordenamento do Território dos Açores

Este item permite proceder à divulgação dos objetivos de qualidade de paisagem e das orientações para a gestão da paisagem dos Açores, com base nas paisagens identificadas, incluindo as respetivas caracterizações, elementos singulares e pontos panorâmicos, promovendo o conhecimento adquirido e o acompanhamento das políticas públicas de paisagem.

Caracterização e Identificação das Paisagens dos Açores | RAA

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Glossário

Glossário

* elaborado com base em Costa, 1993; Faria, 1997; Leinz e Mendes, 1963; Mérenne, 1981, Moreira, 1984; Tostões et al., 2000. Inclui terminologia relativa a componentes e elementos da paisagem Açoriana, para além dos termos referidos no presente estudo.

Achada – Planície extensa e larga sobre uma montanha, planalto, rechã.  

Afloramento rochoso – Qualquer porção de rocha in situ que aparece à superfície do terreno, liberta da habitualmente da cobertura de detritos e produtos de alteração.

Aglomerado rural – Conjunto de casas, sem equipamento de apoio ou com equipamento rudimentar, constituindo um aglomerado mais ou menos concentrado em meio rural.

Algar – Cavidade ou fenda no solo geralmente profunda, originada por erupções vulcânicas.

Aluviões – Material detrítico que se deposita após o transporte pela água. Pode ser de origem fluvial, lacustre ou marinha. Da sua constituição fazem parte os calhaus, as areias, o limo e a argila. 

Arriba – Vertente escarpada em contacto com o mar que se encontra relacionada ou não com processos de erosão marinha. As arribas podem ser classificadas como vivas ou mortas [as que, respetivamente, evoluem ou não evoluem atualmente por processos de erosão marinha]; fósseis [antiga arriba que evolui atualmente por processos de erosão continental] e falsas [o depósito que se encontra no sopé da arriba e que evolui por processos de erosão marinha].

Arribana [São Miguel] – Edifício para secar cereais, de grandes dimensões, construção mista em alvenaria de pedra e madeira. O tipo mais frequente corresponde a um edifício isolado de dois pisos com vários compartimentos. No piso térreo, geralmente aberto, faz-se a desfolhada do milho, enquanto no piso superior se depositam os cereais a secar. Surgem também versões de um só piso ou encostadas a outra edificação.

Atafona [1]  Moinho de cereais de propulsão animal, geralmente instalado no piso térreo de um edifício de apoio à agricultura ou na loja de uma habitação. Também existe em versão manual, mais pequeno, instalado sobre uma bancada ou em móvel próprio. 

Atafona [2]  Edifício de dois pisos construído em alvenaria de pedra, coberto com um telhado de duas águas, onde se guardam alfaias e produtos da terra. Abriga no piso térreo a atafona [1] propriamente dita [moinho de cereais], servindo também de estábulo para o animal que a faz mover. O piso superior é utilizado como palheiro. O edifício mantém o mesmo nome, mesmo quando perdeu a função de moinho e já nem há vestígios do mecanismo. 

Atrevados [Rosais, São Jorge] – Terras de pasto que não são cultivadas e onde se semeiam ervas, geralmente trevina, que, mesmo comida uma vez, volta a rebentar e a crescer. 

Bagacina – Escória de vulcões constituída por terra queimada solta.

Baldio – Terreno inculto, mato abandonado; terreno com baixa fertilidade de que os indivíduos residentes em determinada circunscrição podem tirar proveito. 

Barca – Depressão de terreno, entre colinas ou montes, onde se acumulam águas da chuva. 

Bardo – “Murete” construído por leivas [paralelepípedo de terra com herbáceas] sobrepostas, podendo ser plantado na parte superior com hortenses, urzes ou outras plantas, para delimitar pastos e evitar a passagem de gados.  

Barraca de milho [São Miguel] – O mesmo que estaleiro, burra, tolda, tulha [1]. 

Barranceira – O mesmo que ribanceira. 

Barranco – Talvegue não muito profundo que segue a linha de maior declive numa vertente. 

Barreiro – O mesmo que barreira. 

Barrocas do mar – Faixa rochosa entre o mar e a terra. 

Beirada – Berma; lado da estrada; também se usa para dizer horta. 

Biscoito – Terreno pedregoso constituído por mantos de lava em via de desagregação, anterior ao povoamento do Arquipélago e permitindo a cultura da vinha e o plantio de figueiras; sem a intervenção humana, desenvolvem-se aí faias, incenseiros, pinheiro e urze. 

Borda da rocha – Linha cimeira da encosta sobranceira ao mar. 

Brejo – Terreno de silvado e urze. 

Burra [de milho] [1] [Santa Maria, Terceira e Graciosa] – O mesmo que estaleiro, barraca de milho, tolda e tulha [1]. Nalgumas ilhas estabelece-se uma distinção entre a burra, sequeiro longitudinal, e o pião de milho, sequeiro piramidal. 

Burra [de milho] [2] [São Jorge] – Armação de madeira em forma de pirâmide quadrangular destinada a conservar ao ar livre o milho ainda em maçaroca.  

Cabeço – Relevo de forma arredondada, pouco elevado. 

Cafua – Construção ligeira em forma de tenda com cobertura de duas águas [de palha, canas ou tábuas em escama] que descem até ao chão. Aparece junto aos terrenos de cultivo para armazenamento provisório de alfaias e produtos da terra ou para abrigo ocasional dos trabalhadores agrícolas. 

Cafuão – Grande cafua; construção mista de colmo ou madeira e alvenaria de pedra para apoio às atividades agrícolas. 

Caldeira – Cratera de vulcão extinto em forma de bacia. 

Cambos ou cambadas [Graciosa] – O mesmo que cambulhões. 

Cambulhões [de milho] [Terceira] –... pequenos montes de espigas [‘socas’] ligadas pela camada exterior das suas capas de palha, que se arrepiam e atam com fibra de espadana ou de vime” [Nemésio, 1956]. 

Canada – Caminho estreito, mas que possibilita a passagem de um carro de bois. Quando é mais estreita chama-se canadinha. 

Canadinha [Corvo] – Estreita viela entre as casas da vila. 

Casa da besta – Estábulo rudimentar onde se abrigam animais de carga e tiro. 

Caseiral – Terreno plantado de melancia, melões ou abóboras. 

Cerrado – Terreno delimitado por muros baixos, de pedra solta, num campo geralmente destinado ao cultivo de cereais [milho]; horta; o mesmo que serrado. 

Combradas – Hortas pequenas, maiores que os combros. 

Combros – Hortas pequenas; fiadas de pedra que circundam a eira. 

Combros [Corvo] – Socalcos murados destinados à agricultura. 

Conglomerados – Rocha sedimentar constituída por blocos, calhaus, cascalho ou areão unidos por um cimento. Quando os elementos constituintes dos conglomerados se apresentam angulosos, a rocha toma o nome de brecha e quando os elementos constituintes dos conglomerados se apresentam rolados, a rocha toma o nome de pudim. 

Courela [Graciosa e Terceira] – Cerrado grande. 

Cova da Junça [Corvo] – O mesmo que covas. 

Covas [Santa Maria] – Silos escavados na rocha mole, em locais altos e livres da influência das águas subterrâneas, encerrados ao nível do solo por uma tampa de terra. Em Santa Maria surgem agrupados e utilizavam-se para guardar cereais. O mesmo que cova da junça, furnas dos mouros. 

Cratera – Depressão arredondada resultante da expulsão de lava e posterior subsidência. 

Cumeeira – Linha de festo, a que une a sucessão de pontos mais altos numa área acidentada. 

Currais [de vinha] [Pico] – Pequenos compartimentos delimitados por muros de pedra solta formando extensas retículas destinadas ao cultivo abrigado da vinha. O mesmo que curraletes [estes geralmente mais pequenos], quartéis. 

Curraletes [Graciosa, Terceira] – O mesmo que currais, quartéis. 

Depósitos de vertente – Material de origem variada que se deposita no sopé de uma vertente. 

Depressão – Concavidade numa vertente que pode ser aberta ou fechada [quando as águas que se acumulam no seu interior são ou não escoadas para o exterior]. 

Disjunção prismática ou colunar – Aquando do arrefecimento e solidificação da lava formam-se colunas perpendiculares às superfícies de arrefecimento devido a contrações que se geram no seio das escoadas. 

Estaleiro [Flores, Santa Maria] – Construção rudimentar destinada a secar e armazenar espigas de milho, vulgarmente piramidal ou prismática [em forma de tenda], constituída por uma armação de varas de madeira que assenta diretamente no terreno ou sobre pés de alvenaria. O mesmo que barraca de milho, burra, pião de milho, tolda, tulha [1]. 

Fajã – Terreno plano ou em declive não muito acentuado, junto ao mar subjacente a uma arriba abrupta. Pode ter origem na solidificação de mantos de lavas que escorreram pelas encostas, ou no depósito de materiais provenientes do desmoronamento das arribas erodidas. 

Falésia – Costa marítima ou lacustre, fragosa, alta e a pique. 

Falha – Fratura acompanhada de um deslocamento relativo de dois compartimentos de uma rocha, resultante da tensão [falha normal] ou compressão [falha inversa]. 

Fenso – Divisão feita com hortênsias, lenha ou ainda com arame farpado [do inglês “fence”]. 

Freguesia – Subdivisão administrativa de um concelho; aldeia, lugar, povoação, conjunto de edifícios mais ou menos dispersos mas que constituem uma unidade de vizinhança com uma identidade comum. 

Frescal, fescal ou fascal [Santa Maria] – Construção elementar constituída por uma vara vertical, fixa ao solo, em redor da qual se depositam, de baixo para cima, braçadas ordenadas de caules secos de milho. O simples apinhamento adquire estabilidade através de forma cónica final. 

Furna – Gruta. 

Furnas dos mouros [Santa Maria] – O mesmo que covas, cova da junça. 

Granel [São Miguel] – Construção ligeira de planta retangular que serve de celeiro e/ ou sequeiro, composta por uma armação de varas de madeira assente em pés de alvenaria, com uma cobertura de telha de uma ou duas águas. A armação forma uma espécie de parede fasquiada onde se penduram os molhos de maçarocas. No espaço interno depositam-se outros produtos agrícolas. Entre os pés e a armação colocam-se, por vezes, discos de pedra que barram o acesso aos roedores. O granel pode também ser parcial ou totalmente encerrado com paredes de réguas ou escamas de madeira. 

Grés [designação antiga para arenito] – Rocha sedimentar constituída por grãos de areia consolidados por um cimento. 

Grota – Ribeira pequena; sulco escavado pelas águas da chuva relativamente estreito e profundo, até à rocha mãe, coberto de vegetação. 

Hawaítos e afins – Rocha vulcânica ácida. 

Império – Espécie de capela onde se guardam as coroas do Espírito Santo. Ver teatro. 

Lagoa – Acumulação de água numa depressão. 

Lameiro [Graciosa] – Fossa rodeada por um muro de pequena altura onde fermenta o esterco. 

Latada [Graciosa] – Armação de madeira constituída por duas varas e ripado grosseiro que, encostada a uma parede exterior ou interior da habitação ou de uma construção de apoio à produção agrícola, serve para secar as espigas de milho que nela se suspendem. O mesmo que tolda de encosto. Ver estaleiro. 

Latitos – Rocha vulcânica de textura afanítica. 

Leiva – Molho de canas [Topo, São Jorge]; pedaço de terra agregada por musgo ou ervas, por vezes utilizada na construção de bardos ou no “aterro” de estufas de ananás. 

Levada – Acumulação de águas pluviais em caminhos de reduzido declive, que são dirigidas com o emprego de diques mais ou menos rudimentares para uma ribeira ou para uma depressão de terreno onde são absorvidas. 

Maçanico, maçarico, maçarica, mariota ou picota [São Jorge] – Construção feita com canas de milho em forma de cone. O mesmo que picota [Santo Atão]; mariota [Ribeira Seca]; maçarico [Norte Grande]; maçarica [Norte Pequeno]. 

Maroiço, moroiço, moiroiço ou morouço – Acumulação ordenada de pedras, colocadas em forma piramidal, resultante da limpeza dos terrenos destinados à agricultura. Aparecem normalmente junto aos terrenos de biscoito. 

Material piroclástico – Fragmentos lávicos porosos e soltos que, com o tempo, podem adquirir coesão dando origem a tufos. Segundo a sua dimensão, podem classificar-se em poeiras ou cinzas, areias vulcânicas, lapilli e blocos. 

Mato – Terreno inculto revestido de plantas silvestres [arbustos e herbáceas], normalmente espontâneas. 

Mistério – Camada de lava solidificada sobre terra arável, ainda não muito meteorizada, com origem em erupção histórica. 

Monte [São Jorge] – Campo; [viver no campo, fora da vila, sobretudo da Calheta]. 

Nateiros  – Terras plantadas de vinha, geralmente nas fajãs. 

Outeiro ou oiteiro – Pequena elevação mais ou menos rochosa em terrenos de cultura. 

Palheiro – Edifício construído de pedras soltas sem reboco e de teto de palha, de apoio às atividades rurais. Não se limita a guardar palha, armazenando também variados produtos e alfaias agrícolas, podendo albergar animais, o carro de bois e, por vezes, a atafona. Segundo as ilhas e as funções que inclui, assim se vai apresentando sob diferentes formas e tomando diversos nomes. Está normalmente incluído no agregado rural unifamiliar, embora surja também, nalgumas ilhas, disseminado pelos campos de cultivo ou pelas pastagens. Neste último caso mantém a designação genérica. Chama-se palheiro do carro quando a sua principal função é abrigar o carro de bois, tenha ou não um piso ou meio piso superior para armazenar a palha. 

Patameiro – Lameiro de água no chão. 

Pedra-pomes traquítica – Rocha porosa de textura vítrea que se forma, mais facilmente, a partir do magma silícico, de cor clara. 

Pião de erva [São Miguel] – Nome local para a meda de palha. Ver frescal. 

Pião de milho – O mesmo que barraca de milho, burra, estaleiro, tolda. Nalgumas ilhas chamam pião de milho apenas ao sequeiro de forma piramidal, nomeadamente na versão em que se apresenta com um único pé central.  

Pico – Elevação em forma de cone. 

Poio – Aglomeração basáltica nas rochas, normalmente arredondada na sua parte superior. 

Policultura – Sistema de utilização de terrenos que consiste em associar numa parcela agrícola, culturas diferentes. 

Portela – Área mais ou menos plana entre dois topos que corresponde ao limite superior de duas ou mais cabeceiras de cursos de água. 

Prédio – Terreno; herdade; quinta; propriedade rural. 

Quartéis [Santa Maria] – O mesmo que currais, curraletes. 

Quebrada – Porção de terra que caiu. 

Queimada – O mesmo que mistério; terra de lava. 

Quintas – Terrenos agrícolas compartimentados por altas sebes vegetais, destinados preferencialmente às árvores de fruto, mas também com horta e/ ou outras culturas, que assim ficam abrigadas dos ventos. 

Ramada – Rua perpendicular à entrada do Império, onde se deslocam foliões e cavaleiros nos Domingos de Pentecostes e Santa Trindade. 

Ramal – Povoamento em forma linear muito alongado. 

Rebanceira – Pendor pouco elevado mas de declive pronunciadíssimo.

Rechã – Vertente com declive fraco que se posiciona entre duas outras vertentes de declive mais acentuado. Pode ser estrutural, quando aflora uma rocha mais resistente, ou de erosão, quando não há relação com a estrutura. 

Reduto – Terreno à volta da casa de moradia; quintal. 

Refolgadoiro – Abertura por onde o vulcão respira. 

Relvas [Corvo] – Pastos. 

Rocha – Todo o espaço compreendido entre a linha cimeira da encosta subjacente ao “calhau” [orla marítima]; fajã desabitada. 

Roidoiro – Prédios de biscoitos que, geralmente situados a norte, servem de invernadoiro. 

Rua da casa ou caminho da casa [Graciosa] – Estreita faixa do terreiro anexo à casa que dá acesso à porta de entrada da habitação e que a separa da parte mais utilitária do pátio. 

Rua do boi [Pico] – Recinto murado junto à atafona [2] destinado ao animal, normalmente um bovino, que faz mover a atafona [1]. 

Salto – Queda de água. 

Seco – Complemento da ração do gado constituído por folhas secas de milho. 

Serra [1]  Cadeia de montanhas que formam um conjunto de relevos de altitudes mais elevadas em relação à área que as circunda. São, em geral, áreas caracterizadas por importantes desníveis entre os topos e os fundos de vale. 

Serra [2]  Designação que é dada ao monte que se forma na eira com o trigo, acabado de debulhar. 

Serrado – Pequena parcela de terreno [serrado de milho]; o mesmo que cerrado. 

Servidão – Caminho que atravessa uma propriedade alheia, mas que é a única via de acesso. 

Soca [de milho] – Espiga ou maçaroca. 

Talvegue – Linha que une os pontos de menor altitude ao longo de um vale ou vertente, por onde escoa a água. 

Teatro [ou treatro] [Santa Maria, São Miguel] – Tipo de império constituído por um pequeno volume quadrangular, coberto de telha, com três vãos na fachada [uma porta e duas janelas] ou com a frontaria aberta e pontuada por colunas ou pilares. 

Terras [Corvo] – Cerrados agrícolas compartimentados por muros de pedra.

Tolda [Faial, Pico] – O mesmo que estaleiro, barraca de milho, burra, pião de milho, tulha [1]. 

Topo – O mesmo que interflúvio, corresponde à área mais elevada entre dois vales. 

Traquitos – Rocha vulcânica de textura afanítica. Quanto à cor, é leucocrata [possui uma pequena percentagem de minerais ferromagnesianos, entre 5% e 35%] e quanto à acidez, é uma rocha intermédia. 

Tufos – Rocha constituída por material piroclástico coeso.  

Tulha [1] [Santa Maria] – Construção ligeira destinada a sequeiro de milho, constituída por uma armação de madeira em forma de tenda, assente sobre pés de alvenaria, cuja dimensão permite o armazenamento de outros produtos agrícolas no espaço interior. Ver estaleiro, barraca de milho, burra, tolda. 

Tulha [2] [São Miguel] – Armação temporária de madeira destinada à recolha de batatas, formando um paralelepípedo delimitado por taipais laterais e tampa superior. É montada junto ao batatal na altura da apanha.