Ordenamento do Território dos Açores
Caracterização e Identificação das Paisagens dos Açores | Pico

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P1

Designação da unidade:
P1 | Encosta Madalena/ Montanha do Pico
Concelhos:
Madalena
Principais povoados:
Candelária | Monte | Criação Velha | Madalena | Bandeiras
Área aproximada:
110 km2

CARACTERIZAÇÃO DA UNIDADE DE PAISAGEM

Síntese Relativa ao Carácter da Paisagem

A particularidade do carácter desta unidade de paisagem, localizada na parte ocidental da ilha, deve-se à presença de dois elementos com uma forte expressão sensorial: o mar e a montanha do Pico. A unidade desenvolve-se ao longo de uma ampla encosta entre estes dois elementos, sendo a força do primeiro resultante de uma costa baixa, escura e pedregosa; a expressividade do segundo deriva da dimensão e forma como este cone vulcânico se evidencia no topo desta extensa e regular encosta, coberta por uma vegetação que não corta a perceção de tão imponente relevo. A proximidade da ilha do Faial, apenas separada pelo estreito canal com menos de 5 milhas náuticas, entre a Horta e a Madalena, permite uma relação visual forte desta unidade com aquela ilha.  [+]

A faixa litoral caracteriza-se por um dos climas mais secos e quentes de todo o Arquipélago, propício tanto à cultura mediterrânea da vinha, como de árvores de fruto, o que, desde há muito, também motivou a sua procura como estância de veraneio. O cultivo de vinha em grandes extensões com uma malha apertada de currais e curraletas delimitados por negros muros de pedra seca de basalto é, sem dúvida, uma das características desta paisagem que merece maior destaque, e que motivou a sua classificação como Património da Humanidade pela UNESCO em 2004. À medida que se sobe a encosta, passa-se de uma zona agrícola para uma zona de pastagens e desta para uma outra dominada por matos diversificados. As espécies arbóreas são praticamente inexistentes, o que confere à vegetação desta meia encosta um aspeto relativamente uniforme. 

A existência de solos muito pedregosos e permeáveis nesta unidade, faz com que a rede hidrográfica seja praticamente inexistente. Este aspeto justifica que a água de consumo seja geralmente obtida a partir da captação em furos localizados em zonas de maior altitude e a distâncias consideráveis, persistindo como sistema alternativo o processo tradicional de armazenamento da água das chuvas em cisternas e se continuem a usar os poços de maré, localizados no litoral. 

O povoamento surge ao longo da faixa costeira e assume a forma de um cordão descontínuo acompanhando as principais estradas. A vila da Madalena, com um povoamento do tipo concentrado, é o maior centro urbano da ilha. A escala e os valores arquitetónicos que esta vila encerra, principalmente em redor da praça principal aberta sobre o antigo porto, revelam um especial interesse patrimonial e uma ambiência urbana muito particular.

Elementos Singulares

A Paisagem da Cultura da Vinha [ESP1] foi integralmente classificada como Paisagem Protegida de Interesse Regional da Cultura da Vinha da Ilha do Pico e está, parcialmente, classificada como Património da Humanidade pela UNESCO em 2004, na categoria de Paisagem Cultural. A justificação para a classificação desta paisagem como Património da Humanidade pela UNESCO – que ocupa uma área total de 987 hectares, envolvida por uma zona tampão de 1.924 hectares – relaciona-se com o facto de refletir a singularidade de uma cultura vinícola ancestral desenvolvida pelas comunidades locais como resposta a um ambiente hostil, envolvendo trabalho braçal, e que resulta numa grandiosa paisagem de especial beleza, constituída por um intrincado e complexo conjunto de muros e outras estruturas construídas [como adegas e cisternas para a rega], perfeitamente adaptado à cultura em questão e às condições edafo-climáticas locais.  [+]

A classificação pela UNESCO da Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico abrange dois troços: Candelária - Criação Velha - Madalena [no concelho da Madalena] e Madalena – Bandeiras - Santa Luzia [nos concelhos da Madalena e de São Roque do Pico]. Estas áreas são representativas da qualidade da arquitetura tradicional, do desenho da paisagem e dos seus elementos naturais. Quanto a este último aspeto, destaca-se a presença de vegetação endémica de zonas costeiras e da Laurissilva característica de zonas de menor altitude, esta última praticamente desaparecida no Arquipélago, surgindo em algumas zonas de vinha abandonada, facto que pode ser encarado como uma oportunidade de conciliação entre importantes valores culturais e naturais da paisagem. São também de destacar alguns aspetos geológicos muito interessantes, nomeadamente a presença de extensas zonas de lajido com lavas do tipo aa e pahoehoe, sendo que os lajidos são frequentemente atravessados pelas rilheiras – marcas sulcadas no basalto pelos rodados dos antigos carros de bois que transportavam as pipas de vinho desde as adegas até ao mar, onde eram carregadas para exportação. 

A estrutura reticulada da vinha é constituída por uma profusão de muros [com diferentes tipologias, cada qual com uma designação] que não são construídos ao acaso, antes respeitando um conjunto de regras que permitem a proteção das videiras dos ventos e da salinidade e, simultaneamente, o aproveitamento da insolação e a limpeza dos terrenos da pedra basáltica desnecessária. Assim, “as videiras crescendo entre as pedras recebem, ao longo do dia, a energia solar necessária à manutenção dos cachos. Durante a noite, as pedras negras acumuladoras de energia, transferem para as vinhas o calor recebido. Uma verdadeira estufa!” [Veloso, 1988: 29] 

O Mistério de Santa Luzia que se prolonga até à freguesia de Santo António [integrada na unidade P2 – Encosta Norte] constitui uma faixa ao longo da costa de escoada lávica basáltica solidificada [tipo lajido], que inclui também superfícies mais irregulares e com fragmentos basálticos de diversas dimensões à superfície, em grande parte associada à erupção de 1718. Trata-se de uma ocorrência com especial interesse devido às texturas e formas da lava, ao contraste da sua cor negra com a do oceano que nela embate continuamente e, ainda, porque nela ocorre um interessantíssimo património edificado, concentrado entre o mar e a extensa área de currais de vinha e de figueira. O pequeno aglomerado do Lajido de Santa Luzia encontra-se parcialmente recuperado e transformado num núcleo museológico, onde se situa o Centro de Interpretação da Paisagem da Cultura da Vinha do Pico. 

Os Ilhéus Deitado e Em Pé [ESP2] localizam-se no canal entre o Pico e o Faial, a pouca distância do porto da Madalena. Surgem do mar como peças escultóricas imponentes, constituindo como que a porta de entrada no porto e com uma presença realçada por estarem no enfiamento Madalena – Horta. Estes ilhéus estão classificados como Zonas Especiais de Conservação [ZEC]. 

A Montanha do Pico e respetiva Cratera [ESP3] culmina no ponto mais alto do país. Carregada de simbolismo, esta montanha assume uma presença dominante em toda a unidade, destacando-se também a sua visibilidade a partir das outras ilhas do grupo central, pela “força” com que interrompe o oceano. “Seja como for, a sul ou a norte, a montanha é o silêncio, o sagrado; um silêncio divinizado e vertical que levariam para muito longe o grito do homem perdido [...] Compreendo agora porque razão ascetas, eremitas e anacoretas elegeram a santidade e a perfeição das alturas” [Melo, 2000]. 

No cume do Pico, no interior da sua cratera, existe o Piquinho, um pequeno cone lávico com 125 metros de altura e vertentes de elevada inclinação, com atividade fumarólica no topo. Dos bordos da cratera é possível obter magníficas vistas sobre todo o grupo central do Arquipélago. Porém a paisagem para o interior da cratera é árida e inóspita, semelhante a uma paisagem lunar, mas de onde não se exclui a existência de vida. Exemplo disso é a presença do bermim-da-montanha-do-Pico [Silene uniflora ssp. cratericola], uma planta endémica que apenas ocorre nesta cratera

A subida à montanha faz-se vencendo um desnível de mais de 1000 metros, a partir da Casa da Montanha. Esta infraestrutura de apoio à Reserva Natural da Montanha do Pico que integra o Parque Natural da Ilha do Pico, localizada a 1100 metros de altitude, no Cabeço das Cabras, é um ponto de paragem e de registo obrigatório nas subidas, onde também se pode obter informação sobre a geologia, clima, vegetação e ecologia da montanha.

Pontos Panorâmicos

Podem observar-se boas panorâmicas de conjunto desta unidade a partir de vários locais, nomeadamente da parte superior da encosta, no seu limite oriental [PPP 1.1]. É espetacular, em dias claros, a panorâmica que se avista do alto da Montanha do Pico [PPP 1.2].  [+]

No sentido inverso, de baixo para cima, também são de realçar as vistas do porto de Madalena [PPP 1.3] e de outros locais na periferia desta vila, bem como de vários pontos do litoral, como Monte [PPP 1.4], Criação Velha [PPP 1.5], Cais do Mourato [PPP 1.6], Areia Larga [PPP 1.7] ou Baía da Barca [PPP 1.8].

Numa perspetiva mais geral, não é possível esquecer a panorâmica que se tem desta unidade de paisagem a partir da ilha do Faial, quer da Horta [PPP 1.9] quer, sobretudo, de locais mais altos a ocidente desta cidade.

Apreciação e Orientações para a Gestão da Paisagem

Trata-se de uma unidade com um forte carácter, tanto em termos sensoriais como devido à presença de importantes valores culturais e naturais, sendo por isso bem distinta de outras paisagens da ilha ou do Arquipélago. Esta paisagem vulcânica, que exigiu o investimento de muito trabalho humano para criar a possibilidade do solo produzir o sustento necessário à fixação dos povoadores, baseia-se numa grande coerência de usos, que tiraram partido das difíceis condições edafo-climáticas presentes.  [+]

O enorme sucesso económico da comercialização do vinho permitiu, até meados do século XIX, o desenvolvimento da produção vinícola e do património construído associado. O subsequente declínio tem vindo a ser lentamente contrariado, graças aos apoios financeiros e técnicos disponibilizados na tentativa de facilitar a cultura da vinha e conquistar novos mercados consumidores para o vinho do Pico. No entanto, tem sido difícil ultrapassar a falta de mão-de-obra, o que é particularmente complicado numa cultura que não admite mecanização. O objetivo tem sido valorizar a cultura da vinha nos antigos currais recuperados, de enorme importância para o incremento da economia e para a manutenção e valorização do património cultural da Região. A dimensão turística não deve ser ignorada, em conformidade, aliás, com a criação do Museu do Vinho e com o desenvolvimento de estruturas de apoio ao visitante como o Centro de Interpretação da Paisagem Protegida da Vinha do Pico, situado no Núcleo Museológico do Lajido. Também seria desejável recuperar aqui a tradicional produção frutícola, outrora tão conceituada e consumida no Pico e nas ilhas mais próximas Esta unidade de paisagem tem potencial para o desenvolvimento equilibrado e complementar de outras atividades turísticas, como o cicloturismo, a equitação, a pesca desportiva, os passeios a pé, o parapente, a vela e a natação, para além das já implementadas, como a observação de cetáceos e a escalada da Montanha do Pico. A espeleologia é já uma atividade concretizada na Gruta das Torres, o maior tubo lávico conhecido no país, que se encontra parcialmente aberto ao público. 

A maior ameaça a esta unidade de paisagem é, para além do abandono agrícola, alguma pressão para construção na zona de vinha [expansões urbanas mais ou menos pontuais, equipamentos turísticos, reconstruções sem qualidade]. Existem também áreas algo degradadas que necessitam de requalificação, como é o caso da frente litoral da Madalena, especialmente entre o centro desta Vila e a zona do Cachorro.