Ordenamento do Território dos Açores
Caracterização e Identificação das Paisagens dos Açores | São Jorge

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SJ8

Designação da unidade:
SJ8 | Arribas e Fajãs da Costa Norte
Concelhos:
Velas, Calheta
Principais povoados:
Fajã de João Dias | Fajã do Ouvidor | Fajã da Ribeira da Areia | Fajã da Penedia | Fajã das Pontas | Fajã dos Cubres | Fajã do Belo | Fajã dos Tijolos | Fajã da Caldeira do Santo Cristo | Fajã Redonda | Fajã do Sanguinhal | Fajã do Castelhano | Fajã do Nortezinho | Fajã dos Cúberes
Área aproximada:
36 km2

CARACTERIZAÇÃO DA UNIDADE DE PAISAGEM

Síntese Relativa ao Carácter da Paisagem

Esta unidade de paisagem, abrangendo toda a costa norte da ilha, tem um carácter muito forte que resulta da presença de uma arriba abrupta, de grande altura, coberta de pujante vegetação arbóreo-arbustiva, geralmente ensombrada devido à sua exposição. Um outro aspeto que a caracteriza, com um misto de agressividade e de beleza, prende-se com a existência de diversas fajãs no sopé da arriba, resultantes de desabamentos ou escorrências lávicas, associadas ou não a pequenas lagoas, com reduzidos conjuntos habitacionais de acesso difícil, junto dos quais se destacam alguns pomares, vinhas e terras de cultivo, ainda hoje relacionadas com uma agricultura de subsistência. [+]

Ao longo de toda a unidade a presença humana é escassa e não existe relação física ou visual entre a maior parte dos pequenos núcleos habitados, o que acentua a sensação de isolamento. Regista-se um pormenor interessante, já em desuso, relativo ao sistema de longos fios suspensos na encosta - os fios de lenha - que os habitantes das fajãs usavam para transportar molhos de lenha, mondas para estrume e ervagens para o gado até aos campos de cultivo na base das encostas.

Elementos Singulares

A Ponta dos Rosais e Ilhéus [ESSJ1], no extremo noroeste da ilha, é contornada por arribas rochosas com mais de 200 metros de altura, terminando em ponta muito afilada, assemelhando-se à proa de um navio. Em frente existem alguns rochedos, um dos quais “pequeno e comprido, agudo para cima, o Ilhéu, ou a Pedra do Bom Nome” [Frutuoso, 1963], ou “Ilhéu do Canalhoto” [Tostões et al., 2000], com 71 metros de altura, separado da costa por um recife com cerca de 550 metros de extensão, frequentado por aves marinhas quase todo o ano. Possui o farol mais alto dos Açores, atingindo 288 metros, com instalações anexas agora abandonadas. Esta área encontra-se classificada como Monumento Natural devido à sua especificidade geológica e aos recursos faunísticos e florísticos presentes. Esta é também uma singularidade paisagística de especial valor, especialmente se observada a partir do mar e ao pôr-do-sol, quando as arribas tomam cores de impressionante beleza. É de salientar a presença no topo das arribas de uma área encharcada de prado com labaça [Rumex azoricus] uma rara espécie protegida. [+]

A Fajã do Ouvidor [ESSJ3] é a mais extensa e acidentada das fajãs da costa norte e também a mais densamente ocupada, sobretudo com construções de apoio à lavoura. A vivência neste espaço apresenta algumas características de sazonalidade, dividida com o Norte Grande, em função dos rigores climáticos.

A Fajã dos Cubres [ESSJ4], designação proveniente da planta com o mesmo nome [Solidago sempervirens L.] que aqui se encontrava em grande quantidade e era usada para estrumar as terras, constitui uma ocorrência de rara beleza e imprime uma fortíssima sensação de isolamento. Esta fajã inclui uma pequena praia de cascalho, no seguimento da qual está uma lagoa que possui condições ecológicas particulares devido ao delicado equilíbrio físico-químico das suas águas. Existem aqui parcelas agrícolas de pequena dimensão, numa malha muito apertada e irregular, algumas correspondentes a socalcos. As construções são dispersas e aparentam acolher uma ocupação mais constante que na Fajã do Ouvidor. A presença de uma igreja assume um especial destaque entre os elementos construídos.

A Fajã da Caldeira do Santo Cristo [ESSJ5], apresenta aspetos semelhantes à Fajã dos Cubres [ESSJ4], com uma praia de cascalho grosseiro e uma lagoa. As habitações são de reduzida dimensão e organizam-se na área envolvente da igreja e de forma um pouco mais dispersa a oeste. Aqui existe a ermida do Senhor Santo Cristo dos Milagres, local de culto frequentado por devotos de toda a ilha, especialmente na festa que se realiza no primeiro domingo de setembro. É também um local de reconhecido interesse para a prática de surf. Ainda é feito o aproveitamento agrícola da base da encosta em socalcos, sustidos por muros de pedra seca. Este é o único local dos Açores onde procria a amêijoa [Tapes decussatus].

Pontos Panorâmicos

Embora ao longo de todo o topo da arriba se tenham vistas soberbas devido à sua altitude e abertura sobre o oceano, a principal panorâmica é a que se desfruta da Ponta dos Rosais [PPSJ 8.1], de onde se vê grande parte da unidade. Além da imensa vastidão do oceano, podem observar-se no horizonte as silhuetas das ilhas Graciosa e Terceira e, bem mais perto, o Pico e Faial. [+]

Entre os inúmeros pontos onde se desfrutam panorâmicas notáveis, realçam-se os miradouros da Fajã do Ouvidor [PPSJ 8.2], Fajã dos Cubres [PPSJ 8.3] e Fajã da Caldeira de Santo Cristo.

Apreciação e Orientações para a Gestão da Paisagem

Sendo uma unidade de paisagem com desníveis e declives acentuadíssimos, a predominância de basaltos assegura uma relativa estabilidade. Ao longo de milénios foram-se formando as características fajãs na base das arribas, pela acumulação de materiais que se desprenderam das zonas mais altas ou pelo escorrimento de escoadas lávicas. Essas fajãs, correspondentes a plataformas de diferentes dimensões mas nunca muito extensas, são por vezes fustigadas pelas ondas e pelos ventos agrestes, constituindo assim microclimas e habitats muito peculiares. A grande dificuldade de acesso direto às altas arribas faz com que não sejam percorridas por humanos e pelo gado, o que contribui para preservar a riqueza biológica presente. [+]

É inegavelmente uma paisagem bela, grandiosa e, ao mesmo tempo, algo triste e escura, e mesmo algo assustadora para o visitante ocasional. As sensações associadas a estas arribas são muito diferenciadas consoante se observam de pontos elevados ou a partir das fajãs, parecendo estas corresponder a um espaço encravado entre a imensidão do mar e a imponência das grandes “paredes vegetais” com algumas centenas de metros de altura. Constituem situações sensíveis e delicadas, com uma estabilidade relativa, que pode ser facilmente perturbada por fenómenos naturais ou pela ação humana, por muito ligeira que ela seja, pelo que é necessário redobrado cuidado quanto aos usos do solo no topo das arribas e uma especial atenção à erosão.

As lagoas costeiras existentes em duas das fajãs, Cubres e Caldeira de Santo Cristo, são ecossistemas únicos no âmbito do Arquipélago, contendo um valioso património natural, cultural e paisagístico mas, também, tendo grande fragilidade, especialmente quanto à pressão humana excessiva. Estas lagunas são um habitat prioritário para a conservação da natureza à escala europeia e encontram-se inseridas na Rede Natura 2000. Este é o único local dos Açores onde existem lagunas costeiras protegidas.