Ordenamento do Território dos Açores

Este item permite proceder à divulgação dos objetivos de qualidade de paisagem e das orientações para a gestão da paisagem dos Açores, com base nas paisagens identificadas, incluindo as respetivas caracterizações, elementos singulares e pontos panorâmicos, promovendo o conhecimento adquirido e o acompanhamento das políticas públicas de paisagem.

Caracterização e Identificação das Paisagens dos Açores | São Jorge

Página Inicial | Paisagem | Caracterização e Identificação das Paisagens dos Açores | São Jorge

Caracterização da Paisagem

A ilha de São Jorge, com 244 km2 e a sua forma invulgar de fuso alongado, possui um comprimento [56 km] sete vezes maior que a largura [8km], terminando em extremidades muito afiladas, sobretudo na Ponta dos Rosais, a noroeste. A elevada altitude do seu dorso central, aliada a uma costa de altas arribas que descem abruptamente até ao mar, contribuem para a sua configuração muito particular. [+]

A pena poética de João de Melo [2000] chama-lhe “o sáurio que dorme”, e acrescenta: “De regresso a São Jorge, recebe-me um Verão serôdio, num dia feliz para o reencontro desta beleza sem mácula que é a ilha mais ilha dos Açores. Enchem-se-me os olhos da beleza que vêem em altura e em plenitude; ficam-me eles cheios dessa beleza bíblica e definitiva. Uma obra de paisagem que nenhuma arte de palavra [verbal ou escrita] consegue captar com rigor”.

O vulcanismo da ilha de São Jorge exibe o claro predomínio de um vulcanismo fissural a que se alia o controlo da tectónica regional, que se encontra patente no alinhamento de cones estrombolianos de direção oeste - noroeste/ este - sudeste, onde a atividade eruptiva foi essencialmente efusiva. A cordilheira de cones vulcânicos eleva-se a 700 metros de altitude média, destacando-se ainda, por ultrapassarem esta altitude, o maciço do Pico da Esperança, sensivelmente a meio da ilha, a maior altitude de São Jorge com 1053 metros, e o maciço da Serra do Topo na zona sudeste, culminando no Pico dos Frades, com 941 metros.

Em São Jorge foram individualizadas três unidades geológicas, designadas, por ordem cronológica decrescente, por Complexo Vulcânico do Topo, Complexo Vulcânico dos Rosais e Complexo Vulcânico das Manadas [Forjaz e Fernandes, 1970; Forjaz e Fernandes, 1975; Madeira, 1998]. A idade isotópica máxima desta ilha é estimada em 1,32 milhões de anos.

As extensas e altas encostas desenvolvem-se desde as cumeadas da zona central da ilha até ao alcantil das arribas. Estas últimas, que chegam a ter 400 metros, encontram-se com o mar ou detêm-se nas plataformas das mais de sete dezenas de fajãs, distribuídas ao longo das costas nordeste e sudoeste, algumas habitadas e outras não. Estes terrenos aplanados, de maior ou menor extensão, podem ser resultantes de escoadas lávicas ou da deposição de materiais que desabaram da parte superior das arribas por ação da erosão. Embora estas formações também se verifiquem noutras ilhas do Arquipélago, as fajãs de São Jorge, com a sua ocupação humana muito característica e em tempos bastante agricultadas, revestem-se de um carácter muito particular. 

Os dois fatores climáticos mais condicionantes da paisagem desta ilha são a pluviometria e a velocidade e direção dos ventos, associadas às massas de ar mais ou menos húmido. Pelos registos existentes entre 1951 e 1980, verifica-se que a queda pluviométrica varia proporcionalmente com a altitude e é um pouco mais elevada na parte sudeste da ilha [1306 mm no Topo, a 150 metros de altitude, e 2470 mm no Norte Grande, já na parte central da ilha, a 400 metros], rondando a humidade relativa do ar os 80% e a temperatura média anual ligeiramente acima dos 17ºC.

Sujeita a elevada precipitação, a ilha de São Jorge dispõe de água em abundância e as cerca de oito dezenas de nascentes alimentam as principais ribeiras de caudal permanente [Ribeira de São João, Ribeira de São Tomé e outras], encontrando-se ao longo do seu percurso várias quedas de água.

Os solos provenientes das escoadas de lava mais recentes são litossolos, ainda imaturos e pobres, cobertos de vegetação arbustiva, como a urze [Erica azorica], a faia [Morella faya], o pau-branco [Picconia azorica] e ainda outras espécies arbustivas, aliás como em várias outras ilhas. Noutras zonas, existem regossolos cascalhentos, psamíticos ou pulverulentos, delgados e de textura ligeira, provenientes de materiais piroclásticos de projeção recente. Os andossolos, originados nos piroclastos espessos e mais comuns nos Açores, ocupam muitas das grandes superfícies mais antigas, de declive suave e por isso menos sujeitos à erosão hídrica, grande condicionante do uso do solo [SRA, DROTRH, 2000]. As zonas planálticas, apresentam-se com declives dominantemente entre os 8 e os 25%, entrecortadas por alinhamentos de pequenos cones, mais evidenciados nas zonas de Rosais, Ribeira Seca/Norte Pequeno e Topo.

Existem em São Jorge 519 taxa vasculares, número apenas superior ao Corvo e à Graciosa. No entanto, apesar deste reduzido número de taxa vasculares, São Jorge é importante já que apresenta 55 taxa endémicos, o que coloca esta ilha no quarto lugar em termos de espécies e subespécies de vegetação endémica presentes, apenas superado pelo Pico, Terceira e Faial. Além das plantas vasculares já referidas, existem ainda plantas não vasculares, como briófitos do género Sphagnum sp., que formam as turfeiras existentes especialmente na zona das Serra do Topo. São de referir, igualmente os ricos ecossistemas de lagunas costeiras presentes em algumas fajãs do norte, nomeadamente na Fajã dos Cubres e na Fajã da Caldeira do Santo Cristo, que constituem uma particularidade única de São Jorge, de elevado valor ecológico pela sua biodiversidade e condições físico-químicas particulares, que são no entanto bastante delicadas e por isso requerem especial atenção em termos de conservação da natureza. 

Face à escassez de terrenos planos ou pouco declivosos em zonas baixas do litoral, que apenas surgem nas fajãs e em algumas encostas menos íngremes, ao contrário do que se passa nas outras ilhas do Arquipélago, a atividade agrícola concretiza-se em zonas com altitudes superiores a 300 metros, portanto, sujeitas a chuvas e humidade muito elevadas e propícias à existência de pastagens, ou de matos quando os declives não permitem a instalação de pastagens. Um produto estreitamente relacionado com estas características da paisagem é o excelente queijo de São Jorge, denominação de origem protegida [DOP] que apenas é atribuída ao queijo que preenche exigentes critérios de qualidade.

 

A estrutura agrária está baseada na pequena e média propriedade, com os terrenos agrícolas mais perto das habitações, por vezes em socalcos nalgumas fajãs e encostas próximas e, tanto quanto possível, nas zonas menos altas. Condicionadas pelo clima, as pastagens e ainda algumas manchas dispersas de mata e matos concentram-se nas zonas de maior altitude. Aí, onde predominavam os baldios – que em São Jorge representavam uma porção considerável das terras impróprias para a agricultura – encontram-se hoje áreas de pastagem natural e seminatural em regime extensivo e também algumas áreas protegidas, como é o caso da Área Protegida para a Gestão de Habitats ou Espécies do Pico da Esperança e Planalto Central, que integra o Parque Natural da Ilha de São Jorge.  [+]

A elevada percentagem da área de pastagem permanente [95,3%] em relação à Superfície Agrícola Útil demonstra, também em São Jorge, a monofuncionalidade da utilização do solo, só ultrapassada pelas ilhas das Flores e do Corvo, ambas com 98% de pastagens e bastante acima das ilhas de São Miguel, com 80%, Terceira e Graciosa, ambas com 84% [SREA, 2009]. A percentagem de solo com boa capacidade de uso agrícola [classes I, II, III e IV] mal chega aos 10% da área total da ilha, à semelhança do que se passa no Pico, Flores e Corvo, enquanto na Terceira, São Miguel, Faial e Graciosa esta percentagem ultrapassa os 25%, [SRA, DROTRH, 2000]. Apesar disso, na ilha de São Jorge verificou-se o maior aumento da Superfície Agrícola Útil entre 1999 e 2009, situado na ordem dos 21,7%, correspondente à expansão das superfícies com pastagem permanente [20,4%], e muito acima de qualquer outra ilha do Arquipélago. 

O povoamento de São Jorge foi iniciado por volta de 1480, por ação do capitão de Angra, João Vaz Corte Real que, em 1483, recebe do duque D. Diogo a capitania de São Jorge, com sede nas Velas. Pouco depois, será dado novo impulso à fixação de colonos, desta vez pela zona ocidental da ilha, por iniciativa do flamengo Guilherme da Silveira, que se fixou no Topo. Outros núcleos populacionais foram entretanto surgindo, sobretudo na costa sul, mais favorável à fixação humana e ocupando as raras zonas costeiras planas, como acontece com as vilas das Velas e da Calheta, os principais núcleos urbanos da ilha, dotados de porto.

O tipo de povoamento, que nas Velas e na parte central da Calheta surge de forma concentrada, é no resto da ilha predominantemente linear, ao longo de estradas e caminhos e localizado em zonas menos declivosas e mais baixas, como é o caso das fajãs. Contudo, encontram-se em São Jorge os únicos núcleos populacionais dos Açores localizados acima dos 350 metros, atingindo mesmo os 500 metros em Toledo e os 530 metros em Santo António, o mais alto povoado do Arquipélago. Aqui e na ilha das Flores, encontram-se vários povoados sem relação direta com o mar, geralmente devido à altura e inacessibilidade da costa, já que a falta de disponibilidade de terra obrigou os povoadores com menores recursos a assentarem arraiais em locais de maior altitude e pior clima mas com solos aptos para a agricultura. O efeito de isolamento sentido nestas altitudes está também presente nos povoados costeiros que raramente comunicam entre si por via terrestre, dada a configuração abrupta das encostas. Particularmente sensível neste aspeto é a situação das fajãs da costa norte, algumas delas permanecendo até hoje sem ligação por estrada, como é o caso da Fajã da Caldeira do Santo Cristo.

A densidade populacional desta ilha foi sempre das mais baixas do Arquipélago, em resultado das difíceis condições naturais a que se associa uma intensa atividade sísmica, responsável pelas sucessivas vagas de emigração. O sismo de 1980 que destruiu a cidade de Angra do Heroísmo, atingiu duramente a ilha de São Jorge provocando o quase total despovoamento das fajãs mais inacessíveis. O número total de habitantes fixava-se, em 2011, nos 8998 indivíduos, representando uma ligeira quebra relativamente a 2001 quando existiam 9674 habitantes. A densidade populacional, segundo o Censo de 2011, situava-se na ordem dos 36,5 hab/km2.

O povo jorgense é tradicionalmente ligado à criação de gado de leite e carne, a que no passado se associavam também os lanifícios produzidos em teares rudimentares – de que as mantas de ponto alto constituem, hoje, um dos mais prestigiados produtos do artesanato local; o fabrico caseiro de queijo e manteiga evoluiu ao longo do século XX para a produção industrial do famoso Queijo de São Jorge. À agricultura de subsistência coube também um papel determinante na economia da ilha, com especial destaque para a antiga e muito generalizada cultura do inhame, dos cereais [em especial do milho], da vinha [sobretudo nas encostas declivosas talhadas em socalcos, das fajãs da costa sul] e de alguma fruta, esta cultivada preferencialmente nas plataformas baixas do litoral. Do conjunto destas atividades agrícolas persistem hoje alguns dos aspetos mais peculiares do património edificado de São Jorge, como sejam as atafonas, as grandes eiras e os diversos equipamentos que rodeiam a habitação, sem esquecer os moinhos, tanto os de água como os singulares moinhos de vento jorgenses constituídos por um simples corpo giratório de madeira, sobre uma base troncocónica de alvenaria. Apesar da predominante feição agrária da ilha, a pesca e, sobretudo, a caça à baleia [cachalote] mantiveram-se durante muito tempo como florescente atividade ombreando com os picarotos e faialenses nesta última arte.

Considerando-se importante a manutenção e desenvolvimento das atividades pecuárias e a produção de lacticínios [a grande vocação jorgense], há que ter em atenção a conservação do solo, ameaçado pela erosão em muitos locais, bem como a redução da biodiversidade inerente à significativa expansão da superfície de pastagens. A água, abundante, poderia ter um melhor aproveitamento, o mesmo se passando com a energia do vento. A indústria conserveira tem tido um desenvolvimento considerável, apostando-se em produtos de qualidade e diferenciados em relação às outras ilhas.

A paisagem desta ilha poderá ser substancialmente valorizada se, ao nível do ordenamento, se prestar atenção à localização das novas construções e vias de comunicação, bem como à conservação do valioso património natural, nomeadamente florístico. É grande o potencial turístico, apoiado fundamentalmente no património paisagístico, em que a componente natural é parte importante, devendo ser convenientemente valorizado e desenvolvido de forma sustentável, integrando-se na expansão cuidada desta atividade a nível de toda a Região.

Incidência de Instrumentos de Gestão Territorial

Incidência de Regimes e Instrumentos de Conservação da Natureza

  SJ1SJ2SJ3SJ4SJ5SJ6SJ7SJ8SJ9SJ10SJ11
Parque Natural da Ilha de São Jorge [PNI São Jorge]SJO01
      
   
SJO02
   
  
   
SJO03
         
SJO04 
        
SJO05  
     
SJO06     
     
SJO07      
   
SJO08          
SJO09    
 
 
 
SJO10
      
   
SJO11
         
SJO12       
   
SJO13          
Rede Natura 2000 [RN2000]PTJOR0013
      
   
PTJOR0014  
 
 
PTZPE0028      
  
GeossítiosSJO 1      
 
  
SJO 2  
    
SJO 3       
   
SJO 4       
   
SJO 5
         
SJO 6
      
   
Reserva da BiosferaNúcleo
Tampão
Transição
Biótopos CorineC196      
 
 
C197          
C213  
 
    
C214      
 
 
C215
      
   
Perímetro FlorestalCasinha e Viveiro da Silveira     
     
Núcleo Baldio da Silveira     
     
NF Achadinha - SFSJ      
    
NF Ribeira do Ferro      
    
NF Grutões      
    
NF Mistérios  
        
RFR Macelas
  
       
RFR Silveira     
    
RFR Sete Fontes
          
VF Sete Fontes
          
Perímetro de Ordenamento AgrárioRibeira Seca/Calheta     
    
Zona Poente de São Jorge
  
   
Santo Antão/Topo