Ordenamento do Território dos Açores

Este item permite proceder à divulgação dos objetivos de qualidade de paisagem e das orientações para a gestão da paisagem dos Açores, com base nas paisagens identificadas, incluindo as respetivas caracterizações, elementos singulares e pontos panorâmicos, promovendo o conhecimento adquirido e o acompanhamento das políticas públicas de paisagem.

Caracterização e Identificação das Paisagens dos Açores | Corvo

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Caracterização da Paisagem

O Corvo, de forma aproximadamente oval e orientada no sentido norte-sul, é a ilha mais setentrional do Arquipélago Açoriano, na mesma latitude do Cabo Carvoeiro [Peniche]. Já localizada sobre a placa tectónica norte-americana, tal como a ilha das Flores, situa-se quase a igual distância da Península Ibérica e da Terra Nova. Com apenas 6,5 km de comprimento e 3 km de largura máxima, é a mais pequena ilha dos Açores, com 17,1 km2, e foi a última a ser assinalada, por Diogo de Teive, em 1452, e a ser povoada, a partir de 1521. Pela sua dimensão e localização, a ilha do Corvo, já um pouco perdida no meio do Atlântico, assume, de alguma forma, um certo misticismo. “Este pedregulho disfarçado de ilha, onde em tempos imaginei cabras e sininhos perdidos na bruma, é afinal uma unidade de tempo e lugar, como sempre pude verificar em todas as cidades e ilhas que até hoje conheci.” [Melo, 2000]. [+]

A ilha do Corvo é morfologicamente dominada pelo seu vulcão central, com um diâmetro médio de 5 km ao nível do mar, no topo do qual existe uma caldeira de subsidência – o Caldeirão – com uma profundidade máxima da ordem dos 300 metros. É no bordo sul deste vulcão que se encontra o ponto mais elevado da ilha, o Estreitinho, com 718 metros. A linha de costa correspondente ao perímetro da ilha totaliza cerca de 19 km: “Não há costa mais redonda nem mais certinha e elevada do que esta, nos Açores. Ela é a base segura e alargada deste grande búzio” [Melo, 2000]. 

Quase sempre coberta por um chapéu de nuvens quando vista a partir de Santa Cruz das Flores, sujeita a frequentes temporais que chegam a impedir as ligações com o exterior durante vários dias, aqui se encontra a ilha e a vila mais isolada de Portugal. “Alguns autores referem-se-lhe como a ilha de sinal menos: a menos povoada, a menos desenvolvida, a menor, a menos visitada, etc.” [Pena e Cabral, 1996]. Um único aglomerado concentra toda a população – Vila do Corvo – instalado numa pequena plataforma costeira de origem lávica, voltada a sul. À sua volta distribuem-se os poucos campos de cultivo e, nas encostas exteriores, e mesmo interiores, do Caldeirão, dominam as pastagens, compartimentadas por muros de pedra seca e sebes vivas, pontuadas por palheiros dispersos, a nascente do povoado, formando um conjunto construído com funções de apoio à produção agrícola. A existência de matas e florestas é residual no Corvo. 

Esta ilha é relativamente pobre ao nível da flora e da fauna, com poucos vestígios da vegetação original que ao longo dos séculos foi sendo destruída para dar lugar às culturas e pastagens, sempre que o declive o permitiu. É a terceira ilha, a seguir a Graciosa e a Santa Maria, a apresentar um menor número de espécies de plantas vasculares endémicas no Arquipélago [SRA, DROTRH, 2000]. No entanto, há relatos que referem a existência, ainda no início do século XVIII, de uma considerável densidade de arvoredo e de matos, em particular de cedro-do-mato. Ainda hoje, é abundante a vegetação natural nas arribas escarpadas das costas ocidental e norte, bem como nas zonas de encosta mais íngreme do interior do Caldeirão. 

Não existe na ilha nenhum curso de água com caudal permanente e os únicos aquíferos existentes situam-se no fundo da cratera do Caldeirão, servindo uma parte do abastecimento público da população residente. Aqui encontram-se também duas lagoas e diversos habitats característicos de zonas húmidas, como as turfeiras. 

O isolamento e a pequenez da ilha não facilitaram o processo de povoamento que foi longo e moroso, sucedendo-se várias tentativas, nem sempre coroadas de êxito. Ao que parece, os primeiros habitantes do Corvo terão sido escravos [negros e provavelmente mouros] que tinham como principal tarefa tomar conta do gado que aqui havia sido largado. Só posteriormente, sob o comando da família Fonseca que assegurou a administração do Corvo entre 1504 e 1593, veio gente das Flores, de outras ilhas e do Continente. 

A vila do Corvo é um aglomerado com um casario denso, de aspeto antigo, com as fachadas viradas a sul, pequeno anfiteatro sensivelmente triangular e localizado numa encosta alcantilada sobranceira à costa. O traçado urbano desta vila é a componente patrimonial mais interessante da ilha, sem reprodução noutro qualquer povoado açoriano, «a única aldeia dos Açores» do ponto de vista geográfico, [Medeiros, 1967:121]. Ruelas estreitas e irregulares estruturam uma malha apertada e orgânica de ruas e travessas, ali designadas por canadas, que convergem no pequeno Largo do Outeiro onde se situa o império. As casas do Corvo são grandes, quase todas de dois pisos, com a cozinha no andar superior, tradicionalmente sem chaminé. A par deste núcleo antigo, existe uma zona de expansão urbana para poente, próxima do aeródromo. 

 

Atualmente, vila do Corvo é sede de concelho mas dependeu administrativamente de Santa Cruz das Flores até 1832. Durante séculos existiram comunicações entre o Corvo e as Flores através de sinais de fumo, para pedir um médico, um padre, alimentos e outros bens ou serviços. Hoje os contactos são bastante mais facilitados, tanto por mar, através do pequeno porto de passageiros e mercadorias [Porto da Casa], como por via aérea, graças a um diminuto aeródromo situado a oeste do núcleo antigo da vila.  [+]

A população residente manteve-se estável entre 2001 e 2011 [425 e 430 indivíduos, respetivamente]. Segundo os dados de 2011, o Corvo apresenta uma densidade populacional de 25,2 hab/km2 [SREA, 2011]. 

A população ocupa-se essencialmente da pecuária e de alguma agricultura, embora a área ocupada com terras aráveis tenha sofrido uma regressão nos últimos tempos [entre 1999 e 2009 cultivaram-se menos 6 hectares, isto é -30%]. As pastagens permanentes ocupam a quase totalidade da Superfície Agrícola Útil da ilha, cerca de 98% em 2009. Ainda persistem alguns hábitos comunitários na gestão dos bens e atividades, nomeadamente a pastagem do gado em regime de baldio. O número total de explorações agrícolas no Corvo, à semelhança do que acontece nas restantes ilhas, sofreu um decréscimo de cerca de 13,8% no período entre 1999 e 2009 [INE, 2001 e SREA, 2009]. Em contrapartida, a área média por exploração agrícola mantém-se elevada, tendo passado de 19,7 para 17,7 hectares, o que ainda assim representa uma das mais altas do Arquipélago, juntamente com a das Flores. 

Como principais problemas e pressões, pode indicar-se a complexidade que representa, do ponto de vista económico e social, gerir o isolamento numa ilha onde só existe um aglomerado, e em que a população está muito dependente em termos produtivos de uma reduzida parte da sua superfície. 

Os riscos de erosão significativos são patentes especialmente na orla costeira e devem ser acautelados através do controlo da drenagem das águas pluviais e de uma utilização do solo adequada, favorecendo o desenvolvimento de vegetação arbustiva e arbórea, aspeto que seguramente iria, também, favorecer o aumento da biodiversidade. Por outro lado, a presença de uma considerável diversidade de aves, algumas delas migratórias e outras que nidificam nas altas arribas costeiras, tem gerado interesse por parte da comunidade científica internacional, sendo um dos fatores que, inclusivamente, contribuiu para que esta ilha fosse classificada como Reserva da Biosfera pela Unesco em 2007.

A melhoria das ligações com o exterior permite potenciar as qualidades turísticas da ilha, pela excentricidade, tipicidade, património cultural e interesse paisagístico, o que pressupõe a melhoria do alojamento turístico e da restauração. O parque habitacional da vila do Corvo deverá ser recuperado e reabilitado, no sentido da valorização das construções existentes, em evidente estado de degradação procurando-se, ao invés, conter a dispersão de novas e desadequadas construções, o que aliás já se verifica. Na mesma lógica, deverão continuar a ser também valorizadas as infraestruturas balneares junto à costa e mais promovidos os já existentes circuitos marítimos e atividades náuticas entre Flores e Corvo. A pesca profissional e desportiva encontra aqui um enorme potencial.

Incidência de Instrumentos de Gestão Territorial

Incidência de Regimes e Instrumentos de Conservação da Natureza

  C1C2C3C4
Parque Natural da Ilha do Corvo [PNI Corvo]COR01
COR02    
Rede Natura 2000 [RN2000]PTCOR0001
PTZPE0020
GeossítiosCOR 1
 
COR 2
 
COR 3
   
COR 4
 
 
Sítio Ramsar1800
 
Reserva da BiosferaZona Núcleo
Zona Tampão
Zona Transição  
Biótopos CorineC203
Perímetro FlorestalBaldio do Corvo