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Pouco compartimentada, a unidade é quase toda ocupada por pastagens, matos baixos ou altos, ricos em espécies da Laurissilva Azórica e algumas intrusões de mata. Neste planalto húmido, frequentemente invadido por brumas e nevoeiros, as situações de céu limpo abrem espetacularmente os horizontes, quer sobre o Pico, quer sobre o oceano e ilhas próximas. O clima é agreste, verificando-se súbitas alterações do estado do tempo. Para além desta dinâmica climática, só a presença de animais nas pastagens dá uma nota de movimento à paisagem. 

Trata-se de uma paisagem de extremo valor em termos de biodiversidade, por integrar espécies da Laurissilva Hiper-húmida, assim como bosques de cedro [Juniperus brevifolia] e turfeiras de diversas tipologias. Aqui é possível encontrar algumas das espécies mais raras destas ilhas, tais como o trovisco-macho [Euphorbia stygiana] ou a angélica [Angelica lignescens]. O valor desta unidade de paisagem reside nas espécies e ecossistemas presentes mas também na extensão de área protegida existente, uma vez que aqui ainda é possível a observação de processos ecológicos característicos, como a sucessão entre os bosques de cedro e as turfeiras, desaparecidos em muitas outras ilhas devido à utilização humana e consequente fragmentação dos habitats. 

As turfeiras presentes são de especial importância, assim como os charcos temporários, porque se trata de zonas húmidas que são habitats prioritários para a conservação da natureza [Rede Natura 2000]. Estas turfeiras cumprem um importante papel na retenção da pluviosidade nas zonas de maior altitude, funcionando como esponjas que depois libertam a água gradualmente. A sua existência impede a erosão e os deslizamentos dos terrenos para as zonas habitadas, de menor altitude. 

Para além das áreas de Laurissilva, dos bosques de cedro, dos matos e das zonas húmidas, é também possível observar aqui a presença de alguns prados naturais e semi-naturais. Estes prados são importantes pelas espécies de herbáceas endémicas que albergam e ainda por constituírem o refúgio de uma diversificada fauna de artrópodes que aqui têm o seu habitat preferencial, como por exemplo as borboletas endémicas sátiros-dos-Açores [do género Hipparchia sp.]. De facto, existe uma fauna endémica que subsiste nos diversos tipos de habitat naturais de bosques, florestas, matos e prados naturais.

Das imediações da Lagoa do Capitão [PPP 3.2] tem-se uma excelente vista sobre a vertente norte da montanha do Pico [ESP3], que também nesta unidade de paisagem continua a ser uma referência sempre presente quando não existem nuvens.

Esta unidade de paisagem encontra-se quase totalmente classificada como área protegida do Parque Natural da Ilha do Pico sob diversas tipologias: Reservas Naturais do Caveiro e do Mistério da Prainha; Área de Paisagem Protegida da Zona Central e Área Protegida para a Gestão de Habitats ou Espécies da Lagoa do Caiado. Em grande parte são também, áreas pertencentes à Rede Natura 2000. No entanto, estas áreas classificadas enfrentam diversas ameaças, a maior das quais é a expansão das áreas de pastagem em detrimento das zonas de vegetação natural. A preservação das zonas existentes com vegetação natural endémica e nativa é essencial para preservar a biodiversidade e os valores presentes, assim como também o é a manutenção ou criação de bolsas de vegetação natural [as moitas] nas pastagens. A negociação com os proprietários dos terrenos no sentido da reconversão de pastagens em áreas de vegetação natural deverá ser apoiada por incentivos económicos, nomeadamente pelas medidas agroambientais existentes. 

Devem ser encaradas outras ações globalmente valorizadoras da paisagem, como seja a compartimentação das pastagens com sebes arbóreas e arbustivas [para abrigo dos ventos, maior produtividade e aumento da biodiversidade], o controlo da erosão do solo nas zonas de maior declive, a atenção à introdução de espécies vegetais exóticas e, pelo contrário, quando possível, o uso privilegiado de endémicas e indígenas. Deve ainda ser dada atenção à existência de diversas indústrias extrativas [exploração de inertes], presentes mesmo em áreas protegidas, cujo impacte visual e ecológico negativo prejudica a qualidade desta paisagem, cada vez mais procurada por motivos turísticos. 

É importante referir que as atividades de recreio e turismo devem ser acompanhadas por uma sensibilização aos valores naturais presentes, uma vez que grande parte deles são extremamente frágeis e dependem de equilíbrios ecológicos delicados. A abertura de novos trilhos e a limpeza das bermas das estradas existentes deverá ser cuidadosamente acompanhada, já que é nas pequenas ravinas e taludes que algumas das espécies mais raras de herbáceas têm condições para vegetar, devendo por isso evitar-se tanto quanto possível a abertura de novas estradas. 

Finalmente, há que referir os graves problemas de eutrofização das lagoas que, apesar dos esforços já desenvolvidos, não foram totalmente debelados. Estes problemas estão estreitamente relacionados com as superfícies de pastagem e sua gestão e são especialmente graves numa ilha em que, para abastecimento das populações, é necessária a utilização dos recursos hídricos existentes nas zonas de maior altitude.