Ordenamento do Território dos Açores
Caracterização e Identificação das Paisagens dos Açores | Pico

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P2

Designação da unidade:
P2 | Encosta Norte
Concelhos:
Madalena, São Roque do Pico
Principais povoados:
Santa Luzia, Santana, São Vicente, Santo António
Área aproximada:
43 km2

CARACTERIZAÇÃO DA UNIDADE DE PAISAGEM

Síntese Relativa ao Carácter da Paisagem

Unidade constituída pela encosta litoral norte até aos 600 metros de altitude, com uma forte presença da Montanha do Pico. É uma paisagem que a partir de meia altura é mais irregular e declivosa que a encosta da Madalena, e com mais matos e pastagens. Salientam-se as vastas áreas de biscoito, com cultura de vinha e de figueiras em currais e curraletas; os muretes de pedra seca, quadrangulares no caso das vinhas e semicirculares no das figueiras, protegem estas culturas do lado do mar. Predomina a cor preta do basalto, em parte ocultado pelo verde-escuro dos matos que foram ocupando os currais abandonados, em contraste com o azul profundo do mar e o azul esbranquiçado da rebentação. [+]

O povoamento, numa linha quase contínua paralela à costa, em posição recuada, faz-se ao longo da estrada regional com algumas incursões para o litoral. A zona costeira inclui um excecional património edificado que tem sido gradualmente recuperado, como adegas e casas solarengas, pequenas ermidas e igrejas, cisternas, poços de maré, currais e até rilheiras [trilhos de carros de bois profundamente gravados na superfície da lava] que refletem a pujança económica ali vivida no auge da produção do Verdelho do Pico.

Elementos Singulares

Tal como referido na unidade de paisagem anterior, a Paisagem da Cultura da Vinha [ESP1] foi integralmente classificada como Paisagem Protegida de Interesse Regional da Cultura da Vinha da Ilha do Pico e está, parcialmente, classificada como Património da Humanidade pela UNESCO, desde 2004, na categoria de Paisagem Cultural. A justificação para a classificação desta paisagem como Património da Humanidade pela UNESCO – que ocupa uma área total de 987 hectares, envolvida por uma zona tampão de 1.924 hectares – relaciona-se com o facto de refletir a singularidade de uma cultura vinícola ancestral desenvolvida pelas comunidades locais como resposta a um ambiente hostil, envolvendo trabalho braçal, e que resulta numa grandiosa paisagem de especial beleza, constituída por um intrincado e complexo conjunto de muros e outras estruturas construídas [como adegas e cisternas para a rega], perfeitamente adaptado à cultura em questão e às condições edafo-climáticas locais.  [+]

A classificação pela UNESCO da Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico abrange dois troços: Candelária - Criação Velha - Madalena [no concelho da Madalena] e Madalena – Bandeiras - Santa Luzia [nos concelhos da Madalena e de São Roque do Pico]. Estas áreas são representativas da qualidade da arquitetura tradicional, do desenho da paisagem e dos seus elementos naturais. Quanto a este último aspeto, destaca-se a presença de vegetação endémica de zonas costeiras e da Laurissilva característica de zonas de menor altitude, esta última praticamente desaparecida no Arquipélago, surgindo em algumas zonas de vinha abandonada, facto que pode ser encarado como uma oportunidade de conciliação entre importantes valores culturais e naturais da paisagem. São também de destacar alguns aspetos geológicos muito interessantes, nomeadamente a presença de extensas zonas de lajido com lavas do tipo aa e pahoehoe, sendo que os lajidos são frequentemente atravessados pelas rilheiras – marcas sulcadas no basalto pelos rodados dos antigos carros de bois que transportavam as pipas de vinho desde as adegas até ao mar, onde eram carregadas para exportação. 

A estrutura reticulada da vinha é constituída por uma profusão de muros [com diferentes tipologias, cada qual com uma designação] que não são construídos ao acaso, antes respeitando um conjunto de regras que permitem a proteção das videiras dos ventos e da salinidade e, simultaneamente, o aproveitamento da insolação e a limpeza dos terrenos da pedra basáltica desnecessária. Assim, “as videiras crescendo entre as pedras recebem, ao longo do dia, a energia solar necessária à manutenção dos cachos. Durante a noite, as pedras negras acumuladoras de energia, transferem para as vinhas o calor recebido. Uma verdadeira estufa!” [Veloso, 1988: 29]. 

O Mistério de Santa Luzia que vindo da unidade P1 – Encosta da Madalena/ Montanha do Pico - se prolonga até à freguesia de Santo António, constitui uma faixa ao longo da costa de escoada lávica basáltica solidificada [tipo lajido], que inclui também superfícies mais irregulares e com fragmentos basálticos de diversas dimensões à superfície, em grande parte associada à erupção de 1718. Trata-se de uma ocorrência com especial interesse devido às texturas e formas da lava, ao contraste da sua cor negra com a do oceano que nela embate continuamente e, ainda, porque nela ocorre um interessantíssimo património edificado, concentrado entre o mar e a extensa área de currais de vinha e de figueira. O pequeno aglomerado do Lajido de Santa Luzia encontra-se parcialmente recuperado e transformado num núcleo museológico, onde se situa o Centro de Interpretação da Paisagem da Cultura da Vinha do Pico.

Pontos Panorâmicos

Podem observar-se interessantes panorâmicas a partir da zona de Cachorro [PPP 2.1] e em outros pontos do litoral sobre as zonas de média e superior altitude da Montanha do Pico [ESP3], que também nesta unidade de paisagem continua a ser uma referência.

Apreciação e Orientações para a Gestão da Paisagem

Nesta unidade destaca-se a conjugação dos currais de vinha e dos semicírculos de figueira, com os matos naturais que os estão a invadir, os mantos de lava solidificada [lajidos], o conjunto dos aglomerados vinhateiros na sua diversidade, a convivência com o mar e a relativa proximidade com os matos e pastagens da unidade P3 – Matos e Prados de Altitude - que lhe fica a montante, com o cume do Pico também presente nos dias mais límpidos. Por este conjunto de características, pode adiantar-se que, sem dúvida, esta unidade de paisagem é rara e tem uma forte identidade. A relação entre os vários usos e funções presentes é equilibrada, de que resulta uma situação estável do ponto de vista funcional e ecológico.  [+]

Dada a pobreza dos solos que cobrem quase por completo esta unidade, deverá tirar-se partido do património edificado existente, dos conhecimentos vitivinícolas obtidos pelas gerações anteriores e das possibilidades técnicas e comerciais que têm surgido, para se avançar no sentido da recuperação e do relançamento da cultura vinhateira nos antigos currais, devendo respeitar-se algumas áreas de mato, cujos elencos florísticos sejam mais representativos da Laurissilva local. O turismo também beneficiaria com essa recuperação, paralelamente com a realização de outras atividades compatíveis, sobretudo no âmbito do ecoturismo e do turismo cultural.